É seca
assolando o nordeste. Matando primeiro de fome, depois de sede. Primeiro o
gado, depois a criança. É a seca que gera além do solo erodido, olhares
perdidos. Aquele semblante de abandono, desamparo, desesperança. A tristeza do
caboclo que não vê saída, nada vê além da plantação perdida, do açude seco, da
imagem do adeus. É quando a família abandona o pouco que tem, êxodo do lar,
êxodo do mundo conhecido, fuga para uma realidade que pode livrar da morte, mas
não livra da marginalização. Um adeus triste, de quem vai cantando no coração a
esperança de Luiz Gonzaga, de que quando o verde dos olhos da amada se
espalharem na plantação, haverão de regressar e viver novamente ali no temor de
uma nova seca, mas tendo um prazer que vem da essência nos tempos de fartura.
É
a vida determinada sazonalmente, não como os que faturam com safras recorde,
para esses que não tem quase nada, a seca pode ser sim um algoz cruel.
É a seca
assolando o nordeste. São os políticos lucrando em programas de governo
fantasmas, são latifundiários lucrando com o auxílio que deveria ajudar mais os
pobres, é a desigualdade não só social, mas cultural, a desigualdade na
educação de mãos dadas com a seca expulsando, maltratando, matando.