À caminho de
casa ele joga o resto de cigarro fora. Prepara-se para acender outro. Não é o
bastante. São tantos problemas, a vida é tão complicada. Enche os pulmões da
fumaça nociva, a mente cheia de preocupações, prazos a cumprir, contas a pagar.
Uma nova tragada, os problemas não desapareceram, mas já não aperta mais
ansioso a direção como antes. O vidro está baixo, joga a fumaça fora, expele um
pouco de seus dias, a custo da tentativa de calar seus dilemas. Não é o
suficiente, nunca é o bastante. É o fim do primeiro maço, só a metade do dia.
Ainda tem que chegar em casa, ver a esposa, os filhos, às vezes queria não
tê-los, mas sabe que são a única coisa de valor que tem realmente. O estoque
acabou, deve comprar mais, depois do almoço? Não, agora. Vai tomar o cafezinho e
voltar ao trabalho já com um novo cigarro na mão. Esvair sua existência em
fumaça. A esposa reclama do cheiro, ele tosse. Almoça, o tempo é contado e os
cigarros aceleram o relógio da vida. Beija a esposa, dá adeus aos filhos. Pega
o maço, pega carteira. Volta, se esqueceu das chaves do carro. Acende mais um,
dessa vez esse não consome os dias comuns, esse maço de agora consome o dia em
que conheceria seus netos, os de antes já não o deixarão vê-los crescer.
Alimenta o monstro. O vício acalma os pensamentos e atiça o seu algoz antes silencioso
e que agora se comunica através de tosses e pigarros.
O
tempo passa. Mais um cigarro, menos alguns dias na conta da sua vida. Pensa em
parar, em tomar só o café, mas não é o
suficiente, nunca é o bastante. Acaba o
dia, traga as expectativas de um futuro já com idade avançada, descansando em
casa. Traga o beijo da esposa e a formatura dos filhos. Pensa em parar, hoje
não. Tosse. Já é noite, joga o resto de cigarro fora, abre o maço, acabou.
Compra outro, deve estar abastecido, vai fumar assim que acordar, para começar
o novo dia, para perder tantos outros.
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