quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Roubaram o retrovisor do meu carro


Roubaram um retrovisor do meu carro e o pior, eu sei quem foi. Hoje, por volta das 17h, José Brasileiro apoderou-se do espelho retrovisor do meu carro. Para quem não o conhece, ele tem 17 anos, nasceu na periferia de Natal, filho de mãe analfabeta e pai desconhecido. Divide quarto com mais 3 irmãos, a mãe recebe auxílio do governo, mas infelizmente o dinheiro não dá nem para comprar uma calça jeans para uma jovem. O dinheiro da casa vem dos serviço de lavadeira que ela consegue de vez em quando, é uma vida dura.
       Apesar de todas as dificuldades, de ter largado o estudos, José vinha conseguindo vencer os desafios da juventude pobre, até esse ano.  Justo no ano de 2013, José se rebelou, juntou todas as suas frustrações e tragou-as em pedras de craque. Gostou. A sensação era nova e lhe dava um prazer que nem nos braços de Marias Tupiniquim sentia. Ele nunca foi violento e para sustentar o, agora, vício passou a fazer pequenos roubos, é então que chegamos ao meu carro. O mais novo ladrão da região roubava partes baratas de carros e vendia a preço de banana para um espertalhão que por sua vez revendia “produtos usados” para outros motoristas que haviam também sido roubados e que se consideravam espertos por comprarem um produto mais barato. É o ciclo da esperteza brasileira.
 No caminho até o meu automóvel, eu levava uma mochila pesada e nos braços mais livros, na bolsa dele, o larápio carregava leve meus outros pertences. Assim que constatei que meu carro não tinha mais um dos retrovisores e os limpadores fiquei chateada, ora que maldade! Já em casa, parei para refletir e me questionei justamente sobre reflexos. O que será que José Brasileiro via quando se olhava no outrora espelho do meu carro? O roubo que ele realizou me causou uma chateação e nada mais, minha vida continua, tenho recursos, estudo para ter uma profissão digna, mas e ele? José só tem o hoje e hoje já está praticamente acabando. Amanhã terá que procurar novos carros e quando isso for pouco? Será que ele vai passar andar armado? Será que vai cometer crimes mais graves? Será que um dia eu vou encontrá-lo nos hospitais da vida? O futuro que imagino para ele não é dos melhores, espero que esteja errada, porque apesar de tudo me sinto culpada.

José Brasileiro é aquilo que a nossa sociedade cultiva, é o assistencialismo burro que não gera meios, mas muitos parasitas, é a violência e são as drogas absorvendo a juventude, é o tuberculose de terceiro mundo enchendo alas, é o retrato do povo brasileiro.