Roubaram um
retrovisor do meu carro e o pior, eu sei quem foi. Hoje, por volta das 17h,
José Brasileiro apoderou-se do espelho retrovisor do meu carro. Para quem não o
conhece, ele tem 17 anos, nasceu na periferia de Natal, filho de mãe analfabeta
e pai desconhecido. Divide quarto com mais 3 irmãos, a mãe recebe auxílio do
governo, mas infelizmente o dinheiro não dá nem para comprar uma calça jeans
para uma jovem. O dinheiro da casa vem dos serviço de lavadeira que ela
consegue de vez em quando, é uma vida dura.
Apesar
de todas as dificuldades, de ter largado o estudos, José vinha conseguindo
vencer os desafios da juventude pobre, até esse ano. Justo no ano de 2013, José se rebelou, juntou
todas as suas frustrações e tragou-as em pedras de craque. Gostou. A sensação
era nova e lhe dava um prazer que nem nos braços de Marias Tupiniquim sentia. Ele
nunca foi violento e para sustentar o, agora, vício passou a fazer pequenos
roubos, é então que chegamos ao meu carro. O mais novo ladrão da região roubava
partes baratas de carros e vendia a preço de banana para um espertalhão que por
sua vez revendia “produtos usados” para outros motoristas que haviam também
sido roubados e que se consideravam espertos por comprarem um produto mais
barato. É o ciclo da esperteza brasileira.
No caminho até o meu automóvel, eu levava uma
mochila pesada e nos braços mais livros, na bolsa dele, o larápio carregava
leve meus outros pertences. Assim que constatei que meu carro não tinha mais um
dos retrovisores e os limpadores fiquei chateada, ora que maldade! Já em casa,
parei para refletir e me questionei justamente sobre reflexos. O que será que
José Brasileiro via quando se olhava no outrora espelho do meu carro? O roubo
que ele realizou me causou uma chateação e nada mais, minha vida continua,
tenho recursos, estudo para ter uma profissão digna, mas e ele? José só tem o
hoje e hoje já está praticamente acabando. Amanhã terá que procurar novos carros
e quando isso for pouco? Será que ele vai passar andar armado? Será que vai
cometer crimes mais graves? Será que um dia eu vou encontrá-lo nos hospitais da
vida? O futuro que imagino para ele não é dos melhores, espero que esteja
errada, porque apesar de tudo me sinto culpada.
José
Brasileiro é aquilo que a nossa sociedade cultiva, é o assistencialismo burro que
não gera meios, mas muitos parasitas, é a violência e são as drogas absorvendo
a juventude, é o tuberculose de terceiro mundo enchendo alas, é o retrato do
povo brasileiro.
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