sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2012


Hoje me bateu um desespero, não quero que o mundo se acabe. Todos os anos surgem hipóteses fatalistas de cataclismos, cavalos alados cuspido fogo, enfim, do fim. Apenas não quero que isso aconteça, tenho tantos planos para 2012 que nem sei se 2012 vai comportar a minha ansiedade em cumpri-los. O mundo vai acabar e eu nem fiz a minha RPG que marco e desmarco desde a minha adolescência? Vou me esvair do universo assim meio corcunda? Apesar da brincadeira, a verdade é que tenho planos para um futuro próximo, como o 2012, depois de amanhã, como para um futuro tão distante que nem os meus sonhos mais mirabolantes podem prever. Há tanto o que fazer, há tanto o que viver que me angustia a hipótese de perder tudo assim tão precocemente. No entanto, sejamos racionais, pode-se perder esse futuro de tantas muitas formas que se permitir temer previsões de fim de mundo é um tanto quanto ingenuidade.
           Penso em 2012 fazer tudo aquilo que me comprometi a fazer em 2011 e que ficou pendente. Acho que pensei a mesma coisa no réveillon passado, mas aceitemos que somos muitas vezes cíclicos em desejos e descompromisso. Não adianta, estou com essa flâmula ardendo em meu peito, a de fazer algo, tudo, agora mesmo se fosse possível, mas calma, há o 2012 todo pela frente, diluirei as minhas angústias, derrotas, vitórias e conquistas em 12 meses, assim fica mais fácil para o coração e para a mente.
           Que 2012, seja ainda melhor que o quadro colorido que pinto em minha mente, que as surpresas sejam para temperar e que descaminhos sirvam de atalhos para novas e ricas experiências.  Um feliz ano novo!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Você


As tuas flores, assim como os teus sorrisos,
são todos mal-intencionados.
Trazem consigo aquilo que inebria senso
Seja pela beleza, seja pelo dom de atrair todos os olhares.
Os teus olhos, assim como as tuas mãos,
esses não negam a intenção.
Entregam-se em gestos despercebidos, formas inesperadas.

A tua voz, assim como teu jeito,
são todos delícia.
É a singularidade que capricha no veneno
Tem esse dom perigoso de iludir e de amar.

O teu caráter assim como a tua ideologia
São todos paixão
É a sinceridade conquistando, o discurso que comove.

Eu por você
Há nisso mais que admiração
É algo novo, que nunca havia sentido.
Ainda não faz sentido, mas faz toda a diferença, fazem todas essas palavras.
E quando me pego assim, falando de ti
Não é perda de tempo, é um momento de simples prazer.

Raissa Campos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A droga do amor!

Não, não é a tão procurada fórmula mágica, nem se iluda, aqui não se trata de obtê-lo, mas sim de compreendê-lo.
Hoje criei uma hipótese, o amor é uma droga. Você verá, faz todo o sentido, foi como uma epifania que esse pensamento foi concebido. É uma droga pesada, dessas que viciam ao primeiro contato, inebria, entorpece, alucina, faz delirar. São características clássicas, não há o que duvidar. Para conquistar os corações inadvertidos, aparece gratuito, tudo planejado para parecer fortuito aos pobres a quem lhe são submetidos. Ora, para quem já foi vítima, ou melhor, usuário, bem já se sabe que mais tarde o preço cobrado é caro. Depois de um romance fatal, uma overdose daquelas que fazem o coração parar, fica-se sem nada, vende-se até a última gota de orgulho por uma dose caprichada. É mesmo muito potente, não há opióide que gere a sensação de um amor puro, não vá comparar, nem tente. E além dos efeitos adversos, ele ainda fica latente. Pode gerar todos esses sintomas falados antes até muitos anos à frente. É muito perigoso o amor, e talvez o pior sejam as crises de abstinência. Elas são acompanhadas de impaciência, lágrimas incontinentes, depressão, falta de apetite, pensamento fixo, desleixo e a pior de todas, a dor no coração. Em relação ao ex-usuário, se é que se pode chamar assim, afinal quem já foi viciado nunca estará limpo, a vontade de mais uma dose nunca terá fim.
O mais incrível e o que faz dele mais perspicaz, é que não se encontra fácil, parece, os mecanismos ainda não estão claros, que é ele quem escolhe a vítima e faz dele seu eterno escravo. Não consegui desvendar como consegue surgir assim de repente, só sei que precisa de pelo menos dois para se fazer vigente. Há muita coisa ainda por saber, muitas descobertas de reações que pode causar já foram realizadas, mas nada tão óbvio quanto a da pessoa que vos fala. Eu não quero prêmios em agradecimento, quero logo desvendar tudo sobre o amor para compreender o sofrimento. É, eu fui, sou uma usuária.
Assim, segue minha pesquisa em busca de uma, quem sabe, porção contrária. Algo que apague da memória o efeito avassalador que causou na minha história. Uma vez produzido o antídoto, que se possa levar uma vida não plena, mas sem tanta dor. Contento-me com pouco porque sei que só se encontra tal analgésico e tal plenitude na própria droga, o amor.

Raissa Campos.


Ferida sem corte cicatriza?

Qual o remédio? Qual o antídoto que a dor ameniza?

Estão abertos os epitélios da alma

sangrando lágrimas em meu rosto.

Dói e eu não sei de onde vem

apenas dor, sem trauma exposto



É o sentimento inflamado

latejando recordações afiadas

elas perfuram sem deixar rastro

provocam feridas difíceis de curar

fáceis de sentir.



Já sei que cicatrizam

e como toda cicatriz, fica a mácula

uma recordação sólida.

Pode representar superação

ou uma eterna mágoa.

Demoram a fechar.



Dizem que as palavras são auxílio

Quais serão as corretas?

Quais trazem consigo o dom do alívio?

Sozinhas não servem.

Hão de ser doses combinadas de palavras e bastante tempo.

Só assim essas feridas são encerradas.

É a sabia parcimônia permitindo ida embora do passado

e a alma cicatrizada, nova vida.



Raissa Campos/Iane Caroline

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

As mãos do asfalto

Mãos pedintes em meio ao asfalto
Acusam-me da pobreza, me capturam de assalto
Mãos pedintes em meio ao asfalto
São jovens, mas já envelhecidas aqui do alto
As mãos pedintes lá do asfalto
São sujas, são trêmulas e se abrem num gesto vago
As mãos da realidade, essas da cor do asfalto
Apontam-me meus ignóbeis desejos fúteis, me frustram
As mãos que se erguem e me pedem qualquer coisa
Atingem-me profunda e deliberadamente aonde a compaixão anda ignota
As mãos já são costumeiras
A cada esquina me aparecem erguidas, me pareciam interesseiras
Mãos de quem?
A indigência flagela a dignidade
Mãos para quem?
Desconhecidos, superiores, blindados sob o ronco dos motores.
As mãos eram ele
Não me lembro do rosto, me marcaram as mãos
As mãos do gesto universal
Mãos que nunca são vistas e se repetem num movimento automático
Continuam pedintes em meio ao asfalto.

Raissa Campos.