Mãos pedintes em meio ao asfalto
Acusam-me da pobreza, me capturam de assalto
Mãos pedintes em meio ao asfalto
São jovens, mas já envelhecidas aqui do alto
As mãos pedintes lá do asfalto
São sujas, são trêmulas e se abrem num gesto vago
As mãos da realidade, essas da cor do asfalto
Apontam-me meus ignóbeis desejos fúteis, me
frustram
As mãos que se erguem e me pedem qualquer coisa
Atingem-me profunda e deliberadamente aonde a
compaixão anda ignota
As mãos já são costumeiras
A cada esquina me aparecem erguidas, me pareciam
interesseiras
Mãos de quem?
A indigência flagela a dignidade
Mãos para quem?
Desconhecidos, superiores, blindados sob o ronco
dos motores.
As mãos eram ele
Não me lembro do rosto, me marcaram as mãos
As mãos do gesto universal
Mãos que nunca são vistas e se repetem num
movimento automático
Continuam pedintes em meio ao asfalto.
Raissa Campos.
Esse eu não tinha lido!!!! Profundo, intrigante, faz refletir!!!
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