Daí que o para-brisa do meu carro foi lavado 4 vezes hoje. Não, não é TOC. Logo cedo, eu lavei para poder enxergar os caminhos tortuosos que me levam ao HGT, após isso, num trajeto entre o hospital, um restaurante, outro hospital e a minha casa ele foi lavado mais 3 vezes por flanelinhas, sem contar que hoje choveu! Todas as vezes eu fui pega de surpresa porque como estava tudo tão limpinho não imaginei que houvesse tamanha audácia. O primeiro encontrou um vidro limpo e não terminou de enxugar quando o sinal abriu, o segundo encontrou um ainda molhado do anterior e o deixou um pouco mais sujo (água do mar?), o terceiro limpador quase nem jogou água, foi interessante ouvir o barulho das pedrinhas acariciando o vidro e eu ali, todas vezes, depois de dar uma sinal de negativo ao ver o começo do trabalho, impossibilitada de qualquer ação, a não ser um sinal de legal no final.
É a sociedade cobrando o preço da desigualdade. O fato é que somos reféns de pessoas que privatizaram ruas e sinais, que fazem um serviço pelo qual, na maioria das vezes, não pedimos e somos extorquidos a pagar. Quer dizer então que o flanelinha que diz vai “olhar” o meu carro, vai impedir que o arrombador leve o meu som ou o meu pneu de estepe? Isso não existe, e ainda temos que ouvir piadas quando o pagamento é pouco, piada que soa mais como uma ameaça. E é por esse motivo que de vez em quando que “pago” pelo serviço que não pedi, por medo. Somos pessoas marcadas, usamos os mesmos caminhos, nos mesmos horários, o temor é que me faz pagar desconhecidos que me abordam quando estou ali indefesa.
Como falei anteriormente, não é um problema apenas de segurança pública, é um problema social. Ninguém sabe o que aquelas pessoas já passaram na vida, se tiveram oportunidade e tudo mais, dos vícios que sofrem, da fome, dos traumas que sofreram, mas não acredito que as minhas moedas curem isso, nem amenizem a minha frustação quanto as dores do próximo. O que me frustrou hoje, foi saber que sou refém daquilo que o sistema do qual faço parte criou, e que não é o medo de perder os frutos dele (sons, celulares, relógios..) que me assusta e sim daquilo que ele não sabe construir, a minha paz.
Concordo em gênero, número e grau...
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