Perto
do semáforo do Hospital Universitário, estava Margarida. Vou chamá-la assim
para dar mais identidade a esse ser que nada tem de fictício. Tinha a pele negra,
cabelos rebeldes queimados do sol, não aparentava ter muita idade, apesar de
uma pele sofrida, marcada pela vida, marcas que deveriam ser mais profundas do que
aquelas que pude enxergar.
Margarida
estava visivelmente alterada. Fazia movimentos desconexos, olhos fixos no nada,
andava sem rumo. Estava num mundo diferente, de cores psicodélicas, de sons
absurdos, fruto do provável consumo de drogas. Atitudes como essas não eram
incomuns nos frequentadores daquele semáforo. Já não me surpreendiam, eu apenas
observava mais uma vítima. Não culpo Margarida pela sua fraqueza, há de ser
muito doloroso viver aquele tipo de realidade e deve ser ainda mais render-se
ao vício para lidar com ela. Talvez as cores vivas e aquela alegria, mesmo que
falsa, só existissem quando ela alimentava o vício. O mundo monocromático em
cinza de seus dias de fome, frio e abandono se esvaía naqueles momentos de
ilusão.
Pobre
Margarida. De que lhe vale a vida? Quem sabe até vende seu corpo. E o que é
dela realmente? Apenas a consciência da monocromia dos dias cinzas.
Adeus
Margarida. Espero vê-la novamente e em tempos melhores, pena que acredito que
isso não vá acontecer.
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