quinta-feira, 22 de março de 2012

Margarida


            Perto do semáforo do Hospital Universitário, estava Margarida. Vou chamá-la assim para dar mais identidade a esse ser que nada tem de fictício. Tinha a pele negra, cabelos rebeldes queimados do sol, não aparentava ter muita idade, apesar de uma pele sofrida, marcada pela vida, marcas que deveriam ser mais profundas do que aquelas que pude enxergar.  
       Margarida estava visivelmente alterada. Fazia movimentos desconexos, olhos fixos no nada, andava sem rumo. Estava num mundo diferente, de cores psicodélicas, de sons absurdos, fruto do provável consumo de drogas. Atitudes como essas não eram incomuns nos frequentadores daquele semáforo. Já não me surpreendiam, eu apenas observava mais uma vítima. Não culpo Margarida pela sua fraqueza, há de ser muito doloroso viver aquele tipo de realidade e deve ser ainda mais render-se ao vício para lidar com ela. Talvez as cores vivas e aquela alegria, mesmo que falsa, só existissem quando ela alimentava o vício. O mundo monocromático em cinza de seus dias de fome, frio e abandono se esvaía naqueles momentos de ilusão.
        Pobre Margarida. De que lhe vale a vida? Quem sabe até vende seu corpo. E o que é dela realmente? Apenas a consciência da monocromia dos dias cinzas.
        Adeus Margarida. Espero vê-la novamente e em tempos melhores, pena que acredito que isso não vá acontecer.
               
         

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