quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

As mãos do asfalto

Mãos pedintes em meio ao asfalto
Acusam-me da pobreza, me capturam de assalto
Mãos pedintes em meio ao asfalto
São jovens, mas já envelhecidas aqui do alto
As mãos pedintes lá do asfalto
São sujas, são trêmulas e se abrem num gesto vago
As mãos da realidade, essas da cor do asfalto
Apontam-me meus ignóbeis desejos fúteis, me frustram
As mãos que se erguem e me pedem qualquer coisa
Atingem-me profunda e deliberadamente aonde a compaixão anda ignota
As mãos já são costumeiras
A cada esquina me aparecem erguidas, me pareciam interesseiras
Mãos de quem?
A indigência flagela a dignidade
Mãos para quem?
Desconhecidos, superiores, blindados sob o ronco dos motores.
As mãos eram ele
Não me lembro do rosto, me marcaram as mãos
As mãos do gesto universal
Mãos que nunca são vistas e se repetem num movimento automático
Continuam pedintes em meio ao asfalto.

Raissa Campos.                                                              
                                                 

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